Que a arquitetura de segurança seja a base para se pensar em embarcar em qualquer tipo de tecnologia, é consenso entre os especialistas na área. Neste momento em que tudo passa por meios tecnológicos, é importante ressaltar algo ainda bastante espinhoso no cenário da segurança: os meios humanos.
Mas antes gostaria de mencionar um discípulo de Freud chamado Carl Jung, que dizia uma coisa muito interessante que é mais ou menos assim: “Se você tiver uma ferida na perna, você tem duas escolhas: você pode simplesmente tampá-la com uma faixa, ignorá-la e seguir! Mas, a ferida poderá se agravar, sua perna pode começar a necrosar e talvez você tenha que amputá-la, correndo risco de morrer. O outro caminho é você tratar sua ferida. Ela estará em carne viva, com pus, um odor nada convidativo, aspecto desagradável, mas se você começará a cutucá-la, limpá-la, mesmo que doa e seja repugnante, ela provavelmente vai cicatrizar. E você? Sobreviverá! Isso não significa que não aparecerão outras, mas outros enfrentamentos serão necessários, até que você se tornará experiente não só em curá-las, mas acima de tudo em enfrentá-las.
Por que abri esse parêntese? Daqui em diante você irá entender.
Atualmente, foi criado um modismo, extremamente conveniente, do ponto de vista comercial, reforçando que a tecnologia na segurança pode substituir o homem e resolver todos os problemas. Vemos inúmeras propagandas ofertando câmeras e outros apetrechos com esse argumento, e somado a isso um argumento mágico: “economia”.
Óbvio que sabemos que nas atuais circunstâncias, a economia é de fundamental importância, mas prefiro pensar em alocar recursos com coerência e assertividade. Prefiro segurança em vez da falsa sensação dela, pois a pior mentira é aquela que nós mesmos criamos e depois acreditamos.
Um exemplo prático ajuda a entender: se considerarmos que os condomínios são micro sociedades, tais como um município ou um Estado, e que estes hoje, sabidamente, investem em tecnologia, com câmeras nas ruas, sistemas de captura de placas e reconhecimento facial, então por analogia, deveríamos ser totalmente favoráveis à diminuição maciça de policiais nas ruas, favoráveis à ideia que o Estado economizasse na qualidade do armamento entregue aos seus soldados (como já vimos acontecer), favoráveis que o Estado remunerasse mal e não investisse em treinamento, evitando assim excessos e desvios de conduta.
Da mesma forma precisamos dentro do condomínio, avaliar o quanto o fator humano é tão dispensável assim, como o modismo vem apregoando.
Quando temos profissionais bem recrutados, respeitados, treinados, remunerados e somamos à arquitetura de segurança, tendo a tecnologia como auxiliar imprescindível de uma boa segurança, avançamos bastante para atingirmos nosso objetivo, a verdadeira mitigação dos riscos. Isso requer investimento? Sim, claro que requer, mas a pergunta que temos que fazer é: Será que não estamos rasgando 50 para não gastar 100, assim como vemos e criticamos o Estado?
Mas ainda não chegamos lá. Ainda precisamos falar muito de outros dois itens fundamentais, os mais trabalhosos e mais polêmicos: meios organizacionais e os meios sociais.
Um consultor de segurança infelizmente carrega consigo a obrigação ética e honrosa de ser verdadeiro, nem sempre podendo dizer o que gostariam que ele dissesse, mas sim o que através da ciência precisa ser dito, para que felizmente possamos chegar a resultados assertivos e concretos.
Adalberto Santos – Diretor Superintendente da Sigmacon Segurança Corporativa. Analista Criminal, MBA em Segurança Corporativa, Consultor internacional de Segurança, ASE (Analista em Segurança Empresarial – pela Abseg/Aesg).